Cesar Santos









(por desconhecê-lo
tão ao noroeste
desconhecer-me
-nos.
para que todos encontros
alhures
sejam possíveis)

eu viajava
quando vi cores
tão novas.
quase assimétricas
em sua intensidade
fixa ou quase dançante

pelo horizonte de um nascer
de sol
no espaço
(cada um tem o seu).


Ana Paula Perissé

Cesar Santos








RECUOS

o recuo
de um silêncio
à beira de ti.

Cansam-me as palavras
aquele verbo que se faz
em demasia
quando o vazio
ronda.

Prefiro ruídos
de carros antigos
sons enfurecidos
de sôfrego sentido
( um quase-poético)
nada mais.

Desejo a lentidão
compartilhada a dois
1´somatório de ilhas
fragmentadas numa tarde
a sentir ondulações

sou um arquipélago
que não anseia
por completude

                                                        Movimentos.

Deixemos a sós
entregues à pulsação da vida
crescida
grande.

( vivo de cada vez
o pedaço de céu
que arremesso para mim)


Ana Paula Perissé

Cesar Santos








QUANDOS

quando é mesmo
o momento?
quando se dá
uma acção?
quando se deve
levantar?

há tempos,
as dúvidas
nos fundam
como pilares de sortilégios.
alhures?

(há mais vidas
lá fora
de onde?)

não, não é fácil
suportar a dor de 1´escolha.
ou deixá-la
à deriva
mais uma vez.
                                   é lançar faíscas
                                   ao vento de tantas faces.

sou uma lagartixa
numa caixa de correio
pronta a fazer fogo
com a sobra do vinho de ontem.

O encontro de Hoje com o Outrora.

Ana Paula Perissé

Cesar Santos









há caos
que talvez se desfaçam
em espelhos
mui opacos
enevoados
                                     sem mais reflexo.

como um conta-gotas
há uma sofreguidão
no sorver do TODO
de quê ainda tem pulso.

há um esvaziar-se
lento
daquilo que de tão belo
sofreu e ainda assim
se foi
desbaratado
em fuga de metáforas.


Ana Paula Perissé

Cesar Santos





FRICÇÃO

tem um clarão
de corpos
que perfazem
os dias
de tal intensidade
tal como a fricção
de rochas
em fogo que renasce
sem ao certo
reconhecer seu paradeiro

(tem muito de calor
nos teus olhos
em minha pele)

tem muito
tão intenso
em cada dia
passado.

Ana Paula Perissé

Cesar Santos






COMERCIO

estou a vender
enigmas
(arde um fósforo)
sussurrados de vento
para apagar
o pôr-do-sol
de perdas
incontáveis.

vendo mistérios
rubros arcanos
ou mesmo
peças avulsas
de encantamentos
recheios de fios
solitários
que nos une
ao tempo
da vida bacante.

Ana Paula Perissé

Cesar Santos






SEM POUSO

à beira de uma varanda
de chão em ruínas
a vida passa
com pressa
e o quê deixa
em seu rastro
vem-me em volúpia
imóvel
já sem as lágrimas
ainda em flor.

ainda
porvir.

e as janelas
já sem pouso
sorriem para lado nenhum.

(entre-mundos eu vivo
sem uma saber da outra)

Ana Paula Perissé

Cesar Santos






DEMASIA

sem vertigem
sem abismo
sem dúvida

(a vida ainda pulsa?)

há um atrevimento atávico
um impulso em chamas
que não apazigua paixões

consome demais
deliciosos
todos
em metamorfose
a mão que se move
para o cerne
de um céu estrelado

há que se viver
em lançamentos

(puros desvarios
alma que sobe
na escuridão)

o amor volta
à minha origem
e nos faz destino

nosso.

Ana Paula Perissé

Cesar Santos






FILHO

tem uma estrelinha bebê
dentro do meu umbigo
sempre

( e quando tu me chegaste
nasci...)

vem
teus olhos faíscam
ternura ao pé do nosso
ipê
bota o pé na estrada
e ao passar
por esta rota de vida
vivíssima
com tons
cores e cheiros
de vôos

retorne
pleno
de
frutas
de manga e maracujá-paixão...

Ana Paula Perissé

Cesar Santos








DEFINITIVAMENTE TALVEZ

há sonhos que se afogam
antes do maremoto
essencial
de seu próprio nascimento
e ficam a flutuar
em dança de éter divino
latência
prestes a existir
tal como sobrevida
cuja mariposa de 1`lamparina
em luzes bruxuleantes
apaga vestígios de ontem.

e ainda há sonhos por vir

(sonhar sonhos futuros
em flutuantes cais
sem salva-vidas)

é alegria
definitivamente, talvez.


Ana Paula Perissé

Cesar Santos







DÌADE OU VAGALUMES

duo díade
múltiplo
dúvida.

há de pairar
um monte de vagalumes
quando houver luz à meia-noite.

muitos
tantos
que o poeta desiste
por vezes
da forma que o reduz
a 1`união de pontos
                                    (indefinidamente são pairagens vivas)
no abismo
prisma
de vários
desejos de eus.

( fragmentos de mim
em dança de mesclas
bebendo o sal de algumas lágrimas)


Ana Paula Perissé

Cesar Santos


Cesar Santos

Nascido em cuba em 1982, Cesar Santos imigrou para os Estados Unidos em 1995, onde desenvolveu seu interesse nas artes. Insatisfeito com a abordagem modernista das escolas que cursou em Miami, como Design and Architecture Senior High, Miami Dade College e, depois, New World School of the Arts, foi para a Itália em busca de aprimorar sua técnica e foi iniciado nas técnicas e métodos da Renascença, séc. XVIII e França do séc. XIX. Depois de formado, voltou a Miami. Chegou a trabalhar recentemente na Suécia, promovendo oficinas de pintura. Santos continua perseguindo uma visão pessoal, criando um vívido diálogo entre o realismo e o modernismo, dando às pessoas espaço para pensar e experimentar a ilusão.








A TERCEIRA MARGEM

a cada feitura de 1`linha,
angústia que labuta
transpor algo de valor
talvez,
tão próximo à ternura
de dizer
não por vaidade
mas sim
por devoção.

(DOLOR)

a cada frase,
a vontade súbita de romper
com o não sabido
e trazer à baila
um bailado só
mas suave e de facto

1 significante e 1/2
de tremor.

Ana Paula Perissé

Ana Paula Perissé


caótica e sensível
sou qualquer coisa que vive na vertigem
de
ser

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=40009