Claude Verlinde

Claude Verlinde







Mulher Fada / por
O.Heinze



Vivo procurando tua imagem

a tua verdadeira
pois minha imaginação é nada
tentando te idealizar...

Vou, te busco nas flores
te chamando em eco...
mas não tenho resposta
talvez por não te chamares Fada.

Busco então tua alma
noutra dimensão
e te acho pela energia
te sentindo inteira:

todo perfume
toda cor e lume
todo encantamento
forte envolvimento

mas a forma do corpo
minha visão tenta, tenta
Ah a forma do corpo
segue atrás desta venda...


Claude Verlinde










Lábios verdes / por O.Heinze

Ela tinha os lábios verdes
não por batom ou frio
mas naturalmente verdes
verdes de esperança
verdes como botão de flor.

Certo dia seu desejo realizou:
o verde
ruborizou, a flor abriu
um perfume virgem fugiu
o beija-flor fartou-se de néctar
e ela passou dançando
de um sonho para outro...

Claude Verlinde





Astronauta do chão / por O.Heinze

O caminho acabou
o lago começou
e eu que nem percebi
continuei em frente
andando sobre as águas
como se fosse chão
ou ponte de tábuas...

Se pareço astronauta
pelos parques da Terra
é culpa de meu amor
que desconhece gravidade
no espaço da felicidade...

Quem me assistiu assim
achou ser milagre
alguém tão comum
com poder nenhum
ser leve igual ar
apenas por amar...



Claude Verlinde




Na banca de jornal / por O.Heinze

Olhando por toda banca
não me encontro em nada
nem na capa da revista santa
nem nas mais conceituadas
nem nas fofoqueiras ou pornôs
nem nas manchetes dos jornais
nem nos gibis internacionais
já dos tempos de meu avô.

Compro então uns dez pacotes
com três figurinhas em cada
encontrando reis do pagode
do funk etc. E eu? Nada!

Não me encontro na banca
nem dentro, nem na calçada
e uma pergunta tão franca
me faço na alma cansada:

Se a ilusão domina a tudo
onde a razão será usada?
Talvez na voz do mudo
na vida não enxergada...


Claude Verlinde




Borboletas e prostitutas / por O.Heinze


Vivem soltas no parque
borboletas e prostitutas
no eterno embarque
diário de suas labutas...

Vestem-se parecidas
com cores vibrantes
fazendo-se queridas
pelos seus amantes...

Sempre perfumadas
alegres pela vida
borboletas na florada
prostitutas na avenida...

Ambas são caçadas
por seres solitários
homens nas calçadas
e meninos visionários...

Borboletas e prostitutas
consolam os tristonhos
umas vendendo frutas
outras compondo sonhos...



Claude Verlinde






Abracem-me / por O.Heinze

Isso! Abracem-me...
Podem todas me abraçar
brandamente enlacem
meu corpo a se doar

Porque o abraçar é tudo
que há de encantador
num momento longo, mudo
na energia do amor...

Isso! Abracem-me...
ondas mornas do mar
ah se vocês falassem
porque vem me abraçar...

Claude Verlinde






Amor entre estrelas / por O.Heinze

Que impiedosa sina
minha doce sereia
tu não podes ser menina.
E eu então?
Nunca me farei tritão
sou alguém das areias.

Mas enquanto de madrugada
as naus descansam seus mastros
nas areias ficam marcadas
o encontro de teus rastros
com minhas novas pegadas

e ali nos amamos tanto
sob um céu de puro encanto
que a noite parece eterna
mas ao ficarmos sozinhos
você sonha em ter pernas
e eu em ser golfinho.

E igual a gaivota que mergulha
desejosa de se tornar mar
e o mar que explode e borbulha
contra a pedra na ânsia de voar

também ousamos mergulhar
na carne um do outro
tentando nossas almas juntar
transformando nós... Noutro.




Claude Verlinde







Troquei os pés pelas mãos... / por O.Heinze



...e me pus a passear
“plantando bananeira”
tendo de chão o ar
e de céu: flores rasteiras

indo feliz nessa situação
enquanto na contra mão
todo mundo achava que não

e mergulhado assim de cabeça
numa realização atemporal
meu eu criança brincava:
sou um super herói
empurrando no espaço o mundo;

meu eu adolescente viajava:
sou um revolucionário divertido
o mais livre vagabundo;

meu eu adulto se orgulhava:
minha loucura não foi em vão
tenho o mundo na palma da mão;

meu eu extraterreno sonhava:
preciso empurrar o mundo
daqui da maldade do mundo
para vida de amor profundo.


Claude Verlinde




Minha tristeza é mais triste / por O. Heinze

Minha tristeza é mais triste
que um sonho que desiste;
que uma roseira sem rosa;
que cor de borboleta idosa
toda largada no chão,
feita assim, chuva sem razão.
Um piado perdido de filhote;
o eco do uivo de coiote.

E não é uma tristeza
de fora para comigo,
e sim, de dentro para contigo,
esse eu fraco lá fora
que poderia tudo na hora,
numa realização de coisas novas
vinda do mundo de gozos e provas.

Mas que continua aqui,
feita fruta madura caqui,
insistindo em ficar... Ficar...
Querendo ser colhida, sem deixar...

Claude Verlinde







Varal do verão / por O.Heinze


Quando a brisa fresca

for empurrando o verão

para outras bandas

dependurarei no varal
da minha mente
lembranças ensolaradas

cheias de cores
e aromas adocicados
e lá elas ficarão
a balançar num aceno
durante mais ou menos
duzentos e setenta dias
num misto de saudade
e de esperança do calor.
E como fundo do varal

a paisagem correrá
ora paixão, ora vazia
passando o filme cotidiano
da minha vida
até o verão regressar
da sua longa viagem...



Claude Verlinde