Toshiyuki Enoki
ANIQUILAMENTO
Meu coração esbanjou vaga-lumes
se acendeu e apagou
de verde em verde
fui contando
Com minhas mãos plasmo o solo
difuso de grilos
modulo-me
com
igual submisso
coração
Bem-me-quer mal-me-quer
esmaltei-me
de margaridas
enraizei-me
na terra apodrecida
cresci
como um cardo
sobre o caule torto
colhi-me
no tufo
do espinhal
Hoje
como o Isonzo
de asfalto azul
me fixo
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
IRMÃOS
A que regimento pertenceis
irmãos?
Palavra que estremece
na noite
Folha recém-nascida
No espasmo do ar
a involuntária revolta
do homem que encara sua
fragilidade
Irmãos
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
A NOITE BELA
Que canto levantou-se esta noite
que entretece
com o cristalino eco do coração
as estrelas
Que festa vernal
de coração em núpcias
Fui
um charco de trevas
Hoje mordo
como uma criança a teta
o espaço
Hoje estou bêbado
de universo
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
CAMPO
A terra
se cobriu
de tenra
leveza
Como uma esposa
nova
oferece
atônita
ao filho
o pudor
sorridente
de mãe
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
SAN MARTINO DEL CARSO
Valloncello dell'Albero Isolato, 27 de agosto de 1916
Destas casas
nada sobrou
senão alguns
pedaços de muro
De quantos
me foram próximos
nada sobrou
nem tanto
No coração porém
nenhuma cruz me falta
É o meu coração
a região mais destroçada
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
Sou uma criatura
Como esta pedra
do S. Miguel
assim fria
assim dura
assim enxuta
assim refratária
assim totalmente
desanimada
como esta pedra
é o meu pranto
que não se vê
A morte
desconta-se
vivendo.
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
VIGÍLIA
Uma noite inteira
atirado ao lado
de um camarada
massacrado
com a sua boca
desgrenhada
voltada à lua cheia
com a congestão
das suas mãos
penetrada
no meu silêncio
escrevi
cartas plenas de amor
Nunca me senti
tão
preso à vida.
Giuseppe Ungaretti
Tradução Jorge de Sena
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Toshiyuki Enoki
QUIETUDE
A uva é madura, o campo lavrado,
destaca-se o monte das nuvens
Nos empoeirados espelhos do estio
caída é a sombra.
Entre os dedos incertos
a luz deles é clara
e longínqua.
Com andorinhas foge
o último tormento.
Giuseppe Ungaretti
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Toshiyuki Enoki
PORTO SEPULTO
Aí chega o poeta
e depois volta à luz com seus cantos
e os dispersa.
Desta poesia
resta-me um
nada
de inexaurível segredo.
Giuseppe Ungaretti
Giuseppe Ungaretti, poeta pertencente ao hermetismo italiano, nasceu em 1888 no Egito, faleceu em 1970. “O seu lirismo, angustiado pelo mistério da vida, sente o cansaço e o sofrimento de existir e sonha estar escorregando na escuridão da morte, sem lembranças, sem queixas, sem temores…” (BORMIOLI , 1954)
http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno04-04.html
http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet143.htm
Toshiyuki Enoki
Educado em diferentes gêneros de pintura em laca, pintura japonesa tradicional e pintura ocidental, Toshiyuki Enoki faz de seus trabalhos um amálgama de novo e velho, da realidade e mito. O artista procura envelhecer seus trabalhos, como um tributo temático a artistas tradicionais e reconhecidos, como Maruyama Oukyou. Utilizando particularmente pincéis gastos, Enoki, de forma cíclica, pinta, apaga e transfere imagens para seus trabalhos, de forma a criar uma atmosfera única. Os detalhes de suas pinceladas são reminiscentes dos trabalhos em laca que serviram de inspiração ao artista. Sua seletiva paleta de cores quentes e folha de ouro sobre a tela cria uma impressão geral mágica.
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