Sokolova Nadejda

VESTE



(para Berijo Wanderley)




Mãos de lã, a morte

A roca move

E fia fina veste

De não e cinza.

Dura o oficio

Horário de infinito

Para a veste que fia

Noite e dia.



Não veste a veste

Nem a lã aquece

O que amanhece

E anoitece

Tem vez e voz

E circunavega

Em circunstâncias.

Mas veste a veste

Para quem os fis crescem

E se cruzam

Cruzes com cruze

Na tessitura.

A Morte veste a veste

A quem seus dardos mostram

Quando seus dados joga.

E a medida já se faz exata.



Tão sutil a negra roca fia

O fio que juntado a parte

A veste que vestindo rasga

Aquele que o veste

E rasgando o limite rompe

Na horizontalidade.



Fiando a veste fina

De frigida pluma

E atenta morte

De frio veste

Com mãos de lã, fios de nada,

Aquele a quem a sorte tira.

O que assim vestido fica

É infinito e lã.



Então a morte a roca estanca

E endurece a veste

Com suas mãos de lã.

E a veste quem vestido esta

Já não é veste, mas armadura.

Nem armadura, já é mordaça.

Nem mordaça, desligamento.

Esquecimento.

Ou nada.



A veste amém

De fina lã

Não e cinza

Veste o sono sem veste

Que não veste o sonho

De quem assim vestido está.






Myriam Coeli

Sokolova Nadejda









BUSCA

(para Celso da Silveira)



Deus é meta.

Eu O procuro

Em vias tortas

E em metáforas.

Sou caliça,

Fel, mordaça,

Circo e faca


Deus é a face.

Eu, o disfarce.


Deus é o indicio.

Eu, caos, circulo.


Deus cativo

- minha fabula.


Deus, é a seta.

Eu, a meta.


Deus é a trilha

Das temências

Desta fera

Teosófica.


Deus, linguagem

Já me acorda

E, com ela

Me interrogo

Gutural.


Deus, dual

Que me entrega

Prodiga arvore

Com seus frutos

Que ressumam

Bem e Mal.


Sou engodo,

Prumo e rumo,

Sonda e revolta,

Arco e alvo,

Céu e chão.

Meu oficio:

- dispersão.


Deus é o verbo.

Eu, o erro.


Deus é o espelho.

Eu, a imagem.


Deus é infindo.

Eu, finito.


Deus é luta.

Eu, espada.


Deus é eterno.

Eu, o minuto.


Deus, amor.

Eu, o ardil.


Deus, temor.

Eu, o terror.


Eu sou a morte,

Tédio, pó,

Ser fremente,

O debuxo

Do momento,

Almenara

Do contexto

Carne e sangue

Que incendeia

O improvável;

Fugitivo

De meus medos

Eu me escondo

No esconso

De meu âmago

Que amarga

Triste exílio

Ser convulso

Me afirmo

No vão fulcro

Do artifício.

Torto e podre

Meu silêncio.


Se contorno

Estas sombras

Que alongam

Os meus sopros,

Já me penso

Semelhante

Só farsante.


Crucifica-se

Minha essência

Na inconstância

De calvários

Onde morrem

Maravilhas

De esperanças.


Deus é a meta

Eu o procuro

Em vias tortas

E em metáforas

Deus é a face

- meu disfarce.




Myriam Coeli